Home » News » Habitantes das Américas » Sem-teto Ocupam Imóveis Retomados no Dia dos Namorados

Mostra/Nascondi il menu

Sem-teto Ocupam Imóveis Retomados no Dia dos Namorados

Minnesota Independent, News feature, Paul Schmelzer, Postado: Fev 14, 2009

Enquanto o envio de mensagens de amor no Dia dos Namorados [Valentine’s Day] pode parecer um efeito de propaganda, uma ação promovida pelos defensores dos sem-teto a ser anunciada neste fim-de-semana é um truque, de acordo com sua organizadora. No sábado, Cheri Honkala da Campanha dos Pobres por Direitos Humanos e Econômicos (PPEHRC) vai revelar à mídia seu projeto de longo-prazo de encontrar moradia para os sem-teto em alguns dos vários imóveis residenciais retomados e vazios nas zonas Norte e Sul de Minneapolis.

Falei com Honkala por telefone esta tarde, minutos depois de membros da Campanha dos Pobres serem removidos de uma casa e receberem uma intimação da Polícia de Minneapolis. Ela diz que atualmente 12 famílias estão usando casas abandonadas ou vazias como se fossem suas. E ela espera mais. Famílias com necessidade podem ir ao escritório da PPEHRC em Minneapolis Sul no Sabbathani Center, diz ela, e algum tipo de acomodação será encontrada. E o que acontece depois disso?

“Primeiro, tentamos utilizar serviços públicos – geralmente, isso leva cinco minutos porque eles de fato não existem,” ela diz. Então, as pessoas podem ser acomodadas temporariamente nas casas de membros da PPEHRC. “De lá, eles irão para uma casa ocupada. No que diz respeito, há milhares de casas vazias. Nem todas estão em mau estado e nós só vamos tomá-las emprestado até que as autoridades municipais nos digam onde estas famílias vão viver.”

Os objetivos do grupo são diversos: eles querem encontrar moradias para famílias que estão vivendo em carros, abrigos ou nas ruas – e há centenas de casas vazias em toda a cidade. Eles querem alertar sobre os problemas de moradia acessível e das pessoas sem-teto. De forma mais concreta, eles procuram uma moratória para as retomadas de imóveis, vendas a descoberto (“short sales”) e despejos. E eles estão preparados para ser presos se isto os aproximar de seus objetivos. Na quinta-feira anterior à Convenção Nacional do Partido Republicano (RNC) em St.Paul, Honkala foi presa numa greve branca em frente ao departamento local de Habitação e Desenvolvimento Urbano (UHD). Alguns dias depois, ela foi presa por ocupação ilegal de Harriet Island conhecida como “Bushville” (as acusações foram retiradas no final do mês passado).

A escolha da data do Dia dos Namorados é simbólica, mas este projeto vem sendo implementado há algum tempo.

“A verdade é que tenho feito isto desde que fiquei sem casa para morar quando meu filho mais velho tinha nove anos,” ela diz. “Eu e meu filho mais velho vivemos em uma casa abandonada do HUD na Rua 38. Mas neste último ano eu tive, pessoalmente, 23 pessoas sem-teto, incluindo crianças, morando comigo em alguma época. Estou muito cansada e muito zangada.”

Mas o simbolismo também reflete uma dura realidade: a condição de sem-teto é particularmente difícil para casais e famílias, já que muitos abrigos separam as pessoas por gênero ou idade, e com frequencia meninos adolescentes são mandados para lugares como The Bridge, longe de seus pais.

Um casal de idosos que Honkala está ajudando enfrentou esta realidade. Os funcionários de um abrigo local decidiram que seus problemas de saúde exigiam que eles fossem para um asilo, e providenciaram para que eles fossem mandados para Harbor Lights, um abrigo onde Honkala diz que tem “sexo e drogas acontecendo pelos corredores”. A mulher do casal de idosos tinha receio de ir para lá e ficar separada de seu marido, que necessita de monitoramento constante para garantir que tome seus remédios na hora certa.

“Quando você tem uma casal com sérios problemas de saúde, você precisa que eles fiquem juntos,” ela diz. “Eles chamavam o Harbor Lights de “a penitenciária”. E quando você está doente, você não quer ficar na penitenciária.”

Mas mesmo para casais saudáveis, ela diz “é duro o suficiente não ter onde morar” sem ainda ter que fica longe de quem você ama.

Um estudo da Fundação Wilder mostra um aumento crescente no uso de abrigos por famílias nos municípios de Hennepin e Ramsey. Em todo o ano de 2007, uma média mensal de 211 famílias – incluindo 400 crianças – usaram abrigos mantidos pela municipalidade. Somente nos primeiros dez meses de 2008, este número subiu para uma média mensal de 286 famílias, que incluem 540 crianças. Um outro estudo da Wilder publicado hoje,mostra que a duração média de estada nos abrigos da municipalidade de Ramsey aumentou de 2006 para 2007 para 30 dias por vez.

Além disto, o cientista consultor da Wilder Craig Helmstetter diz ao Minnesota Independent que as evidências de tendências produzidas por relatos desde então não é muito alentadora.

“Ambos os municípios de Ramsey e Hennepin estão acima de sua capacidade de abrigar famílias agora – durante o período mais crítico do inverno, quando o censo nos abrigos é tipicamente mais baixo,” ele disse por e.mail . “Eles já tiveram que recusar famílias em Ramsey, e tiveram que custear sua estada no Drake, um hotel de baixo-custo, na última semana, em Hennepin.”

A PPEHRC está buscando doações para ajudar a essas pessoas: camas, sofás, cadeiras, “qualquer coisa para pessoas que não têm nada.”

A partir desta semana, Honkala vai convidar líderes religiosos e figuras políticas para algumas de suas casas como forma de engajar a comunidade mais fortemente com o assunto, ficando frente a frente com os sem-teto. Com mais e mais pessoas à beira de perder suas casas, ela está otimista de que a mensagem será recebida com uma atitude diferente.

“O que há de novo sobre o problema agora é que pessoas que normalmente pensam que isto é só um problema que afeta pessoas irresponsáveis – agora eles saber que é um problema muito maior,” ela diz.

Talvez ao enfrentar uma crise econômica, mais pessoas irão se importar. Perguntada sobre o que está por trás de sua incansável defesa dos sem-teto, Honkala alega uma razão biográfica, mas então conclui com uma mensagem maior – uma à qual ela espera que todos respondam com o coração no Dia dos Namorados.

“Eu tenho fortes crenças espirituais, mas também é porque em algum ponto da minha vida eu poderia simplesmente ter morrido – congelado até a morte com meu filho,” ela diz. “Outras pessoas se colocaram no caminho e estavam politicamente envolvidas e fizeram alguma coisa para me ajudar na situação em que eu me encontrava. Eu acho que todos nós precisamos de amor e de ter este tipo de responsabilidade uns com os outros.”

“O fato é que tudo o que realmente temos é uns aos outros.”

http://news.newamericamedia.org/news/view_article.html?article_id=547722c9300de21a551a696b07be0c37&from=rss

Keywords

PPEHRC , sem-teto